“O chá de cebola combate a anemia”. Este é um dos 10 alegados benefícios do chá de cebola apresentados numa de várias publicações do Facebook sobre esta infusão.

Num grupo de Facebook sobre remédios caseiros escreve-se que a cebola é indicada para curar a anemia por ter uma “ação calmante e fortificante sobre os nervos”. 

Além disso, diz o autor, este vegetal ajuda os “órgãos produtores de glóbulos vermelhos a produzir células saudáveis ​​e a evitar alterações no equilíbrio leucocitário”.

Noutro publicação remete-se para um artigo num site em que se garante que a cebola pode “melhorar o nível de ferro”. Segundo este texto, para tratar a anemia, as pessoas devem “misturar cebolas com água” e “gargarejar”.

Mas será mesmo verdade que chá de cebola cura a anemia? Em declarações ao Viral, um especialista em Medicina Geral e Familiar e uma nutricionista esclarecem a dúvida.

Chá de cebola cura a anemia? 

“Não, o chá de cebola não cura a anemia”, diz Paulo Santos, especialista em Medicina Geral e Familiar e professor na Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP).

A quantidade de ferro por 10 gramas de cebola é à volta de 0,5 miligramas, explica, ou seja, 1% da dose diária recomendada. A composição dos alimentos consta na tabela do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge.

“Este valor é de dose diária recomendada. Em caso de tratamento da anemia, teria de ser em doses muito maiores”, adianta o médico.

Sónia dos Santos, nutricionista da clínica Ana Silva Guerra, garante também que “nenhum alimento” cura a anemia.

“Apesar de ser um alimento rico em nutrientes e minerais, precisaria de uma quantidade imensa de cebolas para ir buscar a quantidade de ferro necessária para o tratamento da anemia”, realça.

Por outro lado, é um alimento ácido, ou seja, podemos estar a alterar o ph do estômago, exemplifica a nutricionista. Apesar de o organismo “conseguir combater o excesso de ácido”, se a cebola crua for ingerida continuamente em excesso, o que seria necessário para ajudar na anemia, a pessoa arrisca-se a “contrair outros problemas de saúde”.

“Dizer que a nutrição, por si só, cura a anemia é um tiro no pé”, afirma a nutricionista.

Também o médico Paulo Santos reconhece que a cebola é um “bom alimento”, uma “base fundamental para a gastronomia portuguesa” e que tem propriedades antioxidantes. No entanto, reforça que não é dessa forma que se cura a anemia.

Os dois profissionais consultados pelo Viral referem que há “muitas formas” de tratar doenças. No entanto, no caso da anemia, a ingestão de cebolas “não se coloca” porque “quase não têm ferro”.

Então, como se trata a anemia?

Paulo Santos salienta que a anemia é uma questão “complexa”, em que é preciso olhar para a causa.

As pessoas com anemia, além de pálidas, podem sentir cansaço físico e mental, depressão, etc.

O cansaço e fraqueza são também sintomas apontados pelo National Heart, Lung and Blood Institute (NIH), assim como falta de ar, tonturas, dores de cabeça e um batimento cardíaco irregular.

Segundo o NIH, a anemia surge quando o sangue produz uma quantidade menor do que o normal de glóbulos vermelhos saudáveis. Ou seja, se tem anemia, o corpo não recebe sangue rico em oxigénio suficiente.

A anemia mais comum é, segundo o médico Paulo Santos, a ferropriva, que está relacionada, sobretudo ,com as crianças não conseguirem fazer a ingestão adequada de ferro. Depois, há outras mais complexas, explica o mesmo médico. Aponta ainda o caso de mulheres que “sangram muito” durante a menstruação, o que leva a uma perda de ferro.

É “importante” as pessoas não fazerem o diagnóstico “a si próprias”, alerta o especialista em Medicina Geral e Familiar. Esse diagnóstico deve ser feito por um médico, que deve olhar para a causa e, dessa forma, “acertar o tratamento correto”.

O também professor da FMUP esclarece que, se fizerem suplementos ou mezinhas sem o auxílio do profissional de saúde, podem “correr o risco de outros extremos”, como toxicidade do organismo.

Já a nutricionista Sónia dos Santos esclarece que o tratamento definido pelo médico vai depender, por exemplo, dos valores das análises, da gravidade e do tipo de anemia.

“Utilizamos medicamentos, preparados farmacologicamente, com o complemento de ingredientes e alimentos ricos em ferro”, acrescenta Paulo Santos.

No caso da anemia ferropriva, informa, o tratamento é feito com suplemento de ferro.

Há estratégias para complementar os medicamentos prescritos pelo médico, aponta Sónia dos Santos. Ou seja, a alimentação não vai curar a anemia, mas pode ser um complemento.

Entre os “truques” a seguir, há a ingestão de alimentos ricos em  vitamina C e evitar beber café porque diminui a absorção do ferro. 

Por sua vez, Paulo Santos indica o consumo de carnes vermelhas, o consumo de fígado de vaca, vitela ou porco, “um dos órgãos de mais armazena ferro”, de vegetais verdes, como os espinafres, os grelos e as couves verdes, e as oleaginosas, como o feijão.

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Este artigo foi desenvolvido no âmbito do European Media and Information Fund, uma iniciativa da Fundação Calouste Gulbenkian e do European University Institute.

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